domingo, 10 de junho de 2012

PARA ONDE VAI A EDUCAÇÃO?


            A Educação pode ser uma pista de duplo sentido. Isto é: mão e contramão, onde o condutor deverá dirigir com cuidado, observando as placas que a sinalizam, sem ignorá-las. É evidente que um bom condutor saberá lidar com os imprevistos que, por ventura, venham a acontecer no decorrer do percurso.

            O veículo não pode parar. A carga que ele transporta é EDUCAÇÃO. Por ser muito preciosa, o condutor deverá saber como conduzi-la a fim de evitar avarias ao longo do caminho.  

            Por onde ela passa, alguns curiosos indagam entre si: Para onde vai a Educação?  Qual o itinerário de destino? Será direcionada à rede pública ou particular? Irá para um bairro nobre de uma metrópole, uma cidade qualquer, uma comunidade na favela? Para a comunidade ribeirinha ou indígena? Qual a Região e que tipo de público irá atender? Quem terá acesso a essa Educação que os políticos tanto priorizam nas campanhas eleitorais? Será que nessa carga estão as célebres “pérolas do ENEM”?

Eis aí uma série de questões que não podem ficar sem respostas. Se o público-alvo tiver condições financeiras, a Educação será comprada a preço de ouro em uma Instituição Privada porque o vendedor não abre mão do preço estipulado. 

Quanto a algumas Universidades Particulares não convém exclui-las uma vez que se tornaram um “varejão” educacional vergonhoso formando “profissionais” incompetentes em quase todas as áreas. Sem nenhum constrangimento, exemplifico alunos que ingressaram em Cursos de Direito e não conseguem ser aprovados nas provas da OAB. Sinceramente os rábulas são mais conceituados e apresentam maior capacidade no exercício da função.

E aos que se dizem médicos? São profissionais confiáveis? Como se sentem os pacientes mutilados? Como ficam os que não recebem atendimento adequado? E os casos de “erros” médicos que levam os pacientes a óbito?

Pontuo, ainda, alguns professores graduados, pós-graduados, mestrados que, literalmente, não sabem fazer Educação de qualidade e, consequentemente, não fazem jus ao Certificado de Conclusão.

Nesse “intercâmbio” de interesses, a classe pobre, menos favorecida é, praticamente, obrigada a se conformar com os “sobejos” ou com as migalhas que ficaram perdidas ao longo do caminho.
A LDB, Título II preconiza sobre os Princípios e Fins da Educação Nacional, conforme se elenca abaixo:
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

            Isso não condiz com as realidades que são divulgadas constantemente pelos meios de comunicação a cujas reportagens assistimos, por exemplo, através da televisão.

            Crianças sendo transportadas em carroças, (quando os pais disponibilizam desse recurso), outras andam vários quilômetros a pé, carros improvisados onde todas ficam aglomeradas na carroceria, ônibus caindo aos pedaços, pequenos barcos e outros meios de transportes que não oferecem nenhum tipo de segurança para os estudantes. Nesse cenário, ora descrito, onde está a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola?

            Sobre o espaço físico escolar é apropriado e/ou equipado de forma que contemplem todos os requisitos do Inciso II? Em muitas “casas” que abrigam a Educação faltam bancos, cobertura adequada, quadros para o professor, quadras esportivas, área de lazer; ou seja, não há infraestrutura capaz de atender às necessidades básicas dos alunos e professores. Livros? Onde estão se nessas “casas” não têm o cômodo destinado a eles? Sem acervo nem biblioteca, onde e como pesquisar?

            Ouso apropriar-me da música de Vinícius de Moraes intitulada “A Casa” para melhor visualização desse cenário considerando que os versos “Era uma casa muito engraçada” e “Mas era feita com muito esmero” nem sempre se aplica ao Inciso II da LDB, em grande parte das Escolas Públicas brasileiras.

“Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos, número zero.”
           
            Há, ainda, outra pergunta que não quer se calar: Como se “hospeda” a Educação nas Escolas Unidocentes com turmas multisseriadas? Nesses espaços ela fica estagnada e impotente por não poder atuar de maneira plena e satisfatória.
                       
            A Lei é clara e deverá ser cumprida com seriedade, compromisso e responsabilidade. Não se concebe mais, em pleno século XXI, conviver com essa disparidade que tanto compromete a nossa tão sonhada Educação de qualidade para todos. Seria cabível ou prudente enfatizar que a Educação que queremos ainda se caracteriza como uma utopia?   
           
O lema da Bandeira Nacional é: “ORDEM E PROGRSSO”. Na minha ignorância, entendo que o lema deveria ser: “EDUCAÇÃO É PROGRESSO”. Por isso, comungo com o escritor Monteiro Lobato quando ele afirma: “Um País se constrói com homens e livros”.
           
            Poucos são privilegiados com uma Educação de qualidade e que, de fato, atenda às necessidades que a contemporaneidade exige. Nesse sentido, cabe a ressalva, de que um “novo sistema” de educação foi introduzido aqui no Brasil na época dos Padres Jesuítas. Dezenas de séculos se passaram. Várias Leis foram formuladas, reformuladas e promulgadas. No entanto, a educação continua, praticamente, a mesma. Vale esclarecer que os índios já possuíam características próprias de se fazer Educação. Porém, o que se percebe é que essa “mercadoria” não contempla a todos de forma igualitária.

Essa foto ilustra para onde realmente vai a Educação que queremos e necessitamos: uma Educação capaz de promover o ensino-aprendizagem de forma eficiente e eficaz em que alunos e professores sintam-se motivados e possam degustá-la no cotidiano escolar.

O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele. (Immanuel Kant)

Pensadores, estudiosos, educadores, mestres, psicólogos e tantos outros profissionais que dedicaram e ainda dedicam suas vidas à Educação sinalizando e apontando caminhos para essa área, parece que são ignorados e seus “gritos de alerta” se dissipam com o vento. Suas vozes quase não são ouvidas. Mas uma coisa é certa: provavelmente esses governantes ainda lembram a célebre frase de Pero Vaz de Caminha quando pisou em nosso solo e afirmou: “A terra é de tal maneira graciosa e fértil que, em se querendo, dar-se-á nela tudo”. 

Moral: A caneta do analfabeto é a enxada, a foice e o facão. E o caderno é o solo onde ele escreve sua história e planta os seus sonhos.

Autora do texto: Professora Afra de Souza Lira
Euclides da Cunha- Bahia, 10/06/2012

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