A Educação pode ser uma pista de duplo sentido. Isto
é: mão e contramão, onde o condutor deverá dirigir com cuidado, observando as
placas que a sinalizam, sem ignorá-las. É evidente que um bom condutor saberá
lidar com os imprevistos que, por ventura, venham a acontecer no decorrer do
percurso.
O
veículo não pode parar. A carga que ele transporta é EDUCAÇÃO. Por ser muito
preciosa, o condutor deverá saber como conduzi-la a fim de evitar avarias ao
longo do caminho.
Por
onde ela passa, alguns curiosos indagam entre si: Para onde vai a
Educação? Qual o itinerário de destino?
Será direcionada à rede pública ou particular? Irá para um bairro nobre de uma
metrópole, uma cidade qualquer, uma comunidade na favela? Para a comunidade
ribeirinha ou indígena? Qual a Região e que tipo de público irá atender? Quem
terá acesso a essa Educação que os políticos tanto priorizam nas campanhas
eleitorais? Será que nessa carga estão as célebres “pérolas do ENEM”?
Eis aí uma série de questões
que não podem ficar sem respostas. Se o público-alvo tiver condições
financeiras, a Educação será comprada a preço de ouro em uma Instituição
Privada porque o vendedor não abre mão do preço estipulado.
Quanto a algumas Universidades Particulares não convém
exclui-las uma vez que se tornaram um “varejão” educacional vergonhoso formando
“profissionais” incompetentes em quase todas as áreas. Sem nenhum
constrangimento, exemplifico alunos que ingressaram em Cursos de Direito e não
conseguem ser aprovados nas provas da OAB. Sinceramente os rábulas são mais
conceituados e apresentam maior capacidade no exercício da função.
E aos que se dizem médicos? São profissionais confiáveis?
Como se sentem os pacientes mutilados? Como ficam os que não recebem
atendimento adequado? E os casos de “erros” médicos que levam os pacientes a
óbito?
Pontuo, ainda, alguns professores graduados,
pós-graduados, mestrados que, literalmente, não sabem fazer Educação de
qualidade e, consequentemente, não fazem jus ao Certificado de Conclusão.
Nesse “intercâmbio” de
interesses, a classe pobre, menos favorecida é, praticamente, obrigada a se
conformar com os “sobejos” ou com as migalhas que ficaram perdidas ao longo do
caminho.
A LDB, Título II preconiza
sobre os Princípios e Fins da Educação Nacional, conforme se elenca abaixo:
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos
seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
Isso
não condiz com as realidades que são divulgadas constantemente pelos meios de
comunicação a cujas reportagens assistimos, por exemplo, através da televisão.
Crianças
sendo transportadas em carroças, (quando os pais disponibilizam desse recurso),
outras andam vários quilômetros a pé, carros improvisados onde todas ficam
aglomeradas na carroceria, ônibus caindo aos pedaços, pequenos barcos e outros
meios de transportes que não oferecem nenhum tipo de segurança para os estudantes.
Nesse cenário, ora descrito, onde está a igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola?
Sobre
o espaço físico escolar é apropriado e/ou equipado de forma que contemplem todos
os requisitos do Inciso II? Em muitas “casas” que abrigam a Educação faltam
bancos, cobertura adequada, quadros para o professor, quadras esportivas, área
de lazer; ou seja, não há infraestrutura capaz de atender às necessidades
básicas dos alunos e professores. Livros? Onde estão se nessas “casas” não têm
o cômodo destinado a eles? Sem acervo nem biblioteca, onde e como pesquisar?
Ouso
apropriar-me da música de Vinícius de Moraes intitulada “A Casa” para melhor
visualização desse cenário considerando que os versos “Era uma casa muito
engraçada” e “Mas era feita com muito esmero” nem sempre se aplica ao Inciso II
da LDB, em grande parte das Escolas Públicas brasileiras.
“Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos, número zero.”
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos, número zero.”
Há,
ainda, outra pergunta que não quer se calar: Como se “hospeda” a Educação nas
Escolas Unidocentes com turmas multisseriadas? Nesses espaços ela fica
estagnada e impotente por não poder atuar de maneira plena e satisfatória.
A
Lei é clara e deverá ser cumprida com seriedade, compromisso e
responsabilidade. Não se concebe mais, em pleno século XXI, conviver com essa
disparidade que tanto compromete a nossa tão sonhada Educação de qualidade para
todos. Seria cabível ou prudente enfatizar que a Educação que queremos ainda se
caracteriza como uma utopia?
O lema da Bandeira
Nacional é: “ORDEM E PROGRSSO”. Na minha ignorância, entendo que o lema deveria
ser: “EDUCAÇÃO É PROGRESSO”. Por isso, comungo com o escritor Monteiro Lobato
quando ele afirma: “Um País se constrói com homens e livros”.
Poucos
são privilegiados com uma Educação de qualidade e que, de fato, atenda às
necessidades que a contemporaneidade exige. Nesse sentido, cabe a ressalva, de
que um “novo sistema” de educação foi introduzido aqui no Brasil na época dos
Padres Jesuítas. Dezenas de séculos se passaram. Várias Leis foram formuladas,
reformuladas e promulgadas. No entanto, a educação continua, praticamente, a
mesma. Vale esclarecer que os índios já possuíam características próprias de se
fazer Educação. Porém, o que se percebe é que essa “mercadoria” não contempla a
todos de forma igualitária.
Essa foto ilustra para onde
realmente vai a Educação que queremos e necessitamos: uma Educação capaz de
promover o ensino-aprendizagem de forma eficiente e eficaz em que alunos e
professores sintam-se motivados e possam degustá-la no cotidiano escolar.
Pensadores, estudiosos,
educadores, mestres, psicólogos e tantos outros profissionais que dedicaram e
ainda dedicam suas vidas à Educação sinalizando e apontando caminhos para essa
área, parece que são ignorados e seus “gritos de alerta” se dissipam com o
vento. Suas vozes quase não são ouvidas. Mas uma coisa é certa: provavelmente esses
governantes ainda lembram a célebre frase de Pero Vaz de Caminha quando pisou
em nosso solo e afirmou: “A terra é de tal maneira graciosa e fértil
que, em se querendo, dar-se-á nela tudo”.
Moral: A caneta do
analfabeto é a enxada, a foice e o facão. E o caderno é o solo onde ele escreve
sua história e planta os seus sonhos.
Autora do texto:
Professora Afra de Souza Lira
Euclides da Cunha-
Bahia, 10/06/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário