Esperançando
“É preciso ter
esperança, mas tem de ser esperança do verbo esperançar, porque tem gente que
tem esperança do verbo esperar e, aí, não é esperança e, sim, espera. Ah, eu
espero que dê certo, eu espero que resolva, eu quero que funcione... Isso é
pura espera; esperançar é ir atrás, é juntar, é não desistir”. (Paulo
Freire)
Nós, enquanto professores, precisamos degustar o sabor das
palavras contidas nesse pensamento do educador e imortal Paulo Freire. O verbo
“esperar” nada mais é do que o sentido estático em que ele se encontra nos
dicionários e gramáticas. Já o verbo “esperançar”, traduz, em sua essência, um
valor significativo que nos remete a uma reflexão acerca de nossas ações.
Será que já conjugamos, em nossa trajetória, esse verbo?
“Esperançar” é, sem dúvida, (re) pensar, inovar, transformar, mudar aquilo que,
por vezes, nos parece imutável, porque relutamos em continuar investindo no
tradicionalismo. O novo requer ousadia, coragem, vontade de querer fazer o
diferente em nossa prática pedagógica.
Não basta informar; é preciso formar. Esse paradigma não
deve estar associado a um dogma tendo em vista que a ideia é, sobretudo,
valorizar o conhecimento e a participação efetiva de todos em busca de (re)
construir o saber.
Quando se fala em “esperar” e “esperançar” percebe-se que
não há nenhuma relação intrínseca entre esses verbos. “Esperançar” indica
movimento, ação, atitudes que devem ser incorporados ao nosso cotidiano em sala
de aula. É através da tomada desse posicionamento que a educação deve trilhar.
Unir forças, dividir tarefas, organizar o espaço escolar,
elaborar projetos pedagógicos com uma equipe capacitada, inserir a família e a
comunidade nesse contexto, são alguns pontos que podem favorecer o ensino -
aprendizagem. É através desses indicadores que a educação se consolida em sua
real existência.
O filósofo grego, Sócrates, nos dá uma lição de humildade
ao, sabiamente, afirmar a sua célebre frase: “Só sei que nada sei”. E como
jamais atingiremos o conhecimento em sua totalidade, cabe-nos a incumbência de
desbravar o desconhecido. Isso se faz com determinação, força de vontade,
entusiasmo e muita perseverança; isto é, sem o esforço da busca, é impossível a
alegria do encontro. Esse processo de busca desencadeia uma sucessão de fatores
capazes de promoverem um ensino - aprendizagem de excelência, conforme exige a
sociedade contemporânea.
Utopias? Não! Por isso, comungo com o poeta Fernando Pessoa
quando, categoricamente, afirma: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Por
isso “esperanço” que avistaremos um horizonte mais claro e límpido e tudo será
como numa sinfonia belíssima regida pela esperança, pelo amor e pela
afetividade. Quanto às utopias, faço minhas as palavras de Qintana quando diz:
“Se as coisas são inatingíveis... ora! não é motivo para não querê-las... que
tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!".
Autora do texto: Profª Afra de Souza Lira.
Euclides da Cunha-BA., 23/09/2012