SOMENTE TRISTEZA

SOMENTE TRISTEZA

            Ás vezes acabrunhada, sorrateira e de mansinho, ela surge sem anunciar sua chegada. Em outros momentos aparece como um tsunami, um furacão adentrando na alma e roubando a paz. Seu nome? Tristeza. Adversa da alegria danifica o equilíbrio emocional e, com seu poder destruidor, alcança o espírito a ponto de definhá-lo.

            Não sei o porquê desse estado lúgubre que não me permite mais contemplar a beleza que se apresenta ao meu redor. Até o sol ela consegue ofuscar tornando os dias sem brilho, sem cor, sem vida...

            É como uma espada que perfura o peito, deixando a alma agonizante, moribunda, prestes a sucumbir. E, assim, sucessivamente, ela causa uma dor intensa que corrói o desejo de viver intensamente. Já nem sei se o melhor caminho é aprender a conviver com ela. Não encontro explicação. Meus olhos se turvam frente às lágrimas que deles transbordam involuntariamente.

            - Tristeza, por que me tortura tanto? Por que interfere em meu viver e se apodera de mim? Não vê que você me causa angústia e sofrimento? Sabe quantas vezes me fez chorar? Você é perversa e insiste em me machucar.

            Esqueci-me dos tempos em que o meu olhar cintilava de alegria mesmo quando observava a simplicidade das pequenas coisas. Não me reconheço mais; perdi minha identidade. Ou foi você quem a tirou de mim? Perversa, astuta, traiçoeira, lentamente, arrastou-me ao fundo do poço prendendo-me com suas algemas.

            Você, literalmente, travou meu sorriso largo e espontâneo deixando em meu rosto as marcas e cicatrizes dos longos anos de perseguição e tortura. Vá embora! Não vê que tenho aversão a sua companhia?

Autora do texto: Professora Afra de Souza Lira.         Euclides da Cunha-BA. Em 08/07/2012.