terça-feira, 12 de novembro de 2013

MEMÓRIAS DE UM GANSO



 

MEMÓRIAS DE UM GANSO
Na chácara de dona Liliu havia um lindo casal de gansos muito charmoso  e elegante. Ele, mais imponente do que ela, era dócil somente com sua dona que o chamava carinhosamente de “Menino”.
Em qualquer lugar que estivesse, quando dona Liliu chamava: “Menino”! ele vinha apressadamente com seu andar desengonçado até chegar perto dela. Ele sabia que a cada chamado receberia comida especial. Gostava de milho, mas preferia “comida de panela”. Arroz cozido e alface, não rejeitava em hipótese alguma. Saboreava com a gansa, sua companheira, e não permitia que as galinhas e os pavões participassem do “banquete”.
Subia no colo de dona Liliu e deixava que ela fizesse carinhos alisando e coçando a cabeça, o pescoço longo e o corpo. Era uma ave fantástica! Quando alguém se aproximava, ele descia do colo e corria para bicar. Sua bicada era forte e chegava a ferir o local. Parecia ser ciumento.
Na chácara não havia nenhum cão e nem precisava porque “Menino” cuidava da segurança. Gritava, fazia barulho, batia as asas e, num vôo rasante, atacava a pessoa. Fosse dia ou noite ele estava sempre alerta. O terreiro da casa era o seu território.
Quando estava alegre, balançava a cauda, apressadamente, de um lado para o outro, sacudia o corpo e saía andando todo faceiro.
Dona Liliu trabalhava em uma escola, mas quando chegava a casa o ganso ouvia sua voz e vinha ao seu encontro. Caminhava atrás dela como se fosse um cachorrinho adestrado. Até mesmo quando ela saía nas proximidades lá estava ele seguindo-a. Os vizinhos achavam engraçado e admiravam a “inteligência” de “Menino”. Se algum cachorro aparecesse, ele abria as asas e o enfrentava sem medo.
Gostava também de nadar no pequeno lago defronte da casa. Ali ele mergulhava o pescoço, cantava o seu “quá, quá, quá...” sempre ao lado de sua companheira. Ainda não tinham filhotinhos porque os animais comeram os ovos das duas ninhadas. Esse incidente abalou a família. Todos torciam pelo nascimento de gansinhos. Esse dia era esperado com ansiedade principalmente por dona Liliu, que se sentia “avó”. Na última postura, o ninho havia sido preparado pela gansa com muito cuidado. Estava cheio de plumagens para receber os filhotes que nem chegaram a nascer. Ela continuou ali deitada por algum tempo talvez com a esperança de ter seus ovos devolvidos.
Passado esse período de comoção, tudo voltou ao normal e dona Liliu, deitada numa rede, na área de sua casa, observava o casal de gansos nadando naquele pequeno lago. Ela dizia que essas pequenas coisas alegravam seu coração.
Porém, por ocasião da construção de casas populares do Projeto Minha Casa. Minha Vida, um dos empregados que ali trabalhava, pegou o ganso e comeu. Esse episódio deixou saudades, motivo pelo qual escrevi esse texto em memória do meu ganso estimado.

Autora do texto: Afra de Souza Lira.
Graduada em Letras;
Pós-graduada em Língua Linguística e Literatura.
Fonte da Imagem: Internet.
Euclides da Cunha-BA. Em 12/11/13.

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