MEMÓRIAS DE UM GANSO
Na chácara de dona Liliu havia um
lindo casal de gansos muito charmoso e
elegante. Ele, mais imponente do que ela, era dócil somente com sua dona que o
chamava carinhosamente de “Menino”.
Em qualquer lugar que estivesse,
quando dona Liliu chamava: “Menino”! ele vinha apressadamente com seu andar
desengonçado até chegar perto dela. Ele sabia que a cada chamado receberia
comida especial. Gostava de milho, mas preferia “comida de panela”. Arroz cozido
e alface, não rejeitava em hipótese alguma. Saboreava com a gansa, sua
companheira, e não permitia que as galinhas e os pavões participassem do “banquete”.
Subia no colo de dona Liliu e
deixava que ela fizesse carinhos alisando e coçando a cabeça, o pescoço longo e
o corpo. Era uma ave fantástica! Quando alguém se aproximava, ele descia do
colo e corria para bicar. Sua bicada era forte e chegava a ferir o local. Parecia
ser ciumento.
Na chácara não havia nenhum cão e
nem precisava porque “Menino” cuidava da segurança. Gritava, fazia barulho,
batia as asas e, num vôo rasante, atacava a pessoa. Fosse dia ou noite ele
estava sempre alerta. O terreiro da casa era o seu território.
Quando estava alegre, balançava a
cauda, apressadamente, de um lado para o outro, sacudia o corpo e saía andando
todo faceiro.
Dona Liliu trabalhava em uma
escola, mas quando chegava a casa o ganso ouvia sua voz e vinha ao seu
encontro. Caminhava atrás dela como se fosse um cachorrinho adestrado. Até mesmo
quando ela saía nas proximidades lá estava ele seguindo-a. Os vizinhos achavam
engraçado e admiravam a “inteligência” de “Menino”. Se algum cachorro
aparecesse, ele abria as asas e o enfrentava sem medo.
Gostava também de nadar no
pequeno lago defronte da casa. Ali ele mergulhava o pescoço, cantava o seu “quá,
quá, quá...” sempre ao lado de sua companheira. Ainda não tinham filhotinhos
porque os animais comeram os ovos das duas ninhadas. Esse incidente abalou a
família. Todos torciam pelo nascimento de gansinhos. Esse dia era esperado com
ansiedade principalmente por dona Liliu, que se sentia “avó”. Na última
postura, o ninho havia sido preparado pela gansa com muito cuidado. Estava cheio
de plumagens para receber os filhotes que nem chegaram a nascer. Ela continuou
ali deitada por algum tempo talvez com a esperança de ter seus ovos devolvidos.
Passado esse período de comoção,
tudo voltou ao normal e dona Liliu, deitada numa rede, na área de sua casa,
observava o casal de gansos nadando naquele pequeno lago. Ela dizia que essas pequenas
coisas alegravam seu coração.
Porém, por ocasião da construção
de casas populares do Projeto Minha Casa. Minha Vida, um dos empregados que ali
trabalhava, pegou o ganso e comeu. Esse episódio deixou saudades, motivo pelo
qual escrevi esse texto em memória do meu ganso estimado.
Autora do texto: Afra de Souza
Lira.
Graduada em Letras;
Pós-graduada em Língua
Linguística e Literatura.
Fonte da Imagem: Internet.
Euclides da Cunha-BA. Em 12/11/13.
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