A LENDA DA ÍNDIA KATIUSCIA
Katiuscia era uma indiazinha
maravilhosamente sapeca. Uma doce criaturinha que adorava tomar banho no rio,
mergulhar, ver seu rosto refletido no espelho d’água e nadava como um peixinho.
Gostava de atirar com seu arco e ficava feliz ao ouvir o zunido da flecha
cortando o ar.
Tinha apenas oito anos de idade,
mas já ajudava sua mãe nos afazeres da oca – nome da casa dos índios – e
cuidava dos irmãozinhos mais novos.
Era muito criativa. Inventava
brincadeiras com pedrinhas, pedaços e cascas de madeiras, além de construir
abanos – uma espécie de leque-, com as folhas das palmeiras. Ela mesma
confeccionava seus colares com sementes coloridas, pois adorava se enfeitar.
Pintava o corpo e o rosto com tintas extraídas das plantas da aldeia.
Seus lindos cabelos eram negros e
muito lisos. Sua mãe tinha sempre o cuidado de cortar uma franjinha usando
palhas de tiririca - que é uma espécie de capim -, cujas bordas são afiadas.
Todas as manhãs, ela acordava
cedinho para ir à escola, a qual ficava do outro lado do rio. A própria
criançada era quem remava e conduzia a canoa. A canoa ficava atracada
(estacionada), amarrada em uma árvore, “dançando” de acordo com o balanço das
águas.
A professora era uma índia
graduada em pedagogia. Havia estudado na cidade e retornara à aldeia para, ali
trabalhar. Além de ensinar todas as matérias, tinha o cuidado de ministrar
aulas sobre a língua indígena. Esta não deveria ser esquecida, pois era falada
apenas pelos índios mais velhos e a tradição não podia acabar.
Porém, certo dia, Katiuscia não
foi para a escola. Ao amanhecer o dia, a garota não teve ânimo para levantar-se
de sua rede. A mãe chamou a filha que, imediatamente, respondeu com uma voz
muito fraca: - estou deitada porque acordei sentindo frio e com dor de cabeça.
Dona Iracema ( mãe de Katiuscia), providenciou fazer um chá com a mistura de
várias ervas e deu para a menina tomar. O remédio não fez efeito. A cada dia
que passava, a pequena índia ficava mais fraca.
O Pajé – curandeiro da tribo -
convocou os homens para realizarem uma dança. Nesse ato religioso, invocaram os
deuses e os espíritos praticando todo o ritual em prol da saúde da menina.
Infelizmente os sacrifícios foram em vão. Katiuscia não resistiu e morreu.
Aquela doença era febre amarela.
Seu corpinho ficou aqui na terra,
mas seu espírito subiu ao céu e se transformou em uma brilhante estrela. Lá em
cima, fica pertinho de seus antepassados. Porém, somente os índios podem ver.
Autora do texto: Afra Lira
Graduada em Língua, Linguística e
Literatura.
Fonte da imagem: Internet
Euclides da Cunha/BA. 26/08/2013.